27.10.10

Em resposta às baixarias da campanha do Serra, adiro.

Eleição com reflexão.

A carta abaixo (carta aberta ao jornalista Ricardo Noblat) foi publicada no Escrevinhador, de Rodrigo Vianna e eu, de saco cheio da baixaria que tem sido a campanha do Serra, a reproduzo na esperança de que alguém que tenha entrado aqui procurando Santa Rita de Cássia (parece que é o que mais tem trazido desavisados aqui), a leia e reflita sobre o que fazer na hora de votar.
Ok. Eu também fiquei muito, muito decepcionada com o caso do mensalão e outras derrapadas graves do governo Lula, mas os argumentos que ouço para desqualificá-los - a ele e a seu governo - são, na maioria, ridículos.
Acho que no fundo há uma certa categoria de brasileiros que não engole um sujeito originalmente sem eira nem beira comandando o país.
Que cada um escolha o que quiser, mas o faça com alguma consciência, por favor.

Noblat

Quem é você para decidir pelo Brasil (e pela História) quem é grande ou quem deixa de ser? Quem lhe deu a procuração? O Globo? A Veja? O Estadão? A Folha?

Apresento-me: sou um brasileiro. Não sou do PT, nunca fui. Isso ajuda, porque do contrário você me desclassificaria, jogando-me na lata de lixo como uma bolinha de papel. Sou de sua geração. Nossa diferença é que minha educação formal foi pífia, a sua acadêmica. Não pude sequer estudar num dos melhores colégios secundários que o Brasil tinha na época (o Colégio de Cataguases, MG, onde eu morava) porque era só para ricos. Nas cidades pequenas, no início dos sessenta, sequer existiam colégios públicos. Frequentar uma universidade, como a Católica de Pernambuco em que você se formou, nem utopia era, era um delírio.

Informo só para deixar claro que entre nós existe uma pedra no meio do caminho. Minha origem é tipicamente “brasileira”, da gente cabralina que nasceu falando empedrado. A sua não. Isto não nos torna piores ou melhores do que ninguém, só nos faz diferentes. A mesma diferença que tem Luis Inácio em relação ao patriciado de anel, abotoadura & mestrado. Patronato que tomou conta da loja desde a época imperial.

O que você e uma vasta geração de serviçais jornalísticos passaram oito anos sem sequer tentar entender é que Lula não pertence à ortodoxia política. Foi o mesmo erro que a esquerda cometeu quando ele apareceu como líder sindical. Vamos dizer que esta equipe furiosa, sustentada por quatro famílias que formam o oligopólio da informação no eixo Rio-S.Paulo – uma delas, a do Globo, controlando também a maior rede de TV do país – não esteja movida pelo rancor. Coisa natural quando um feudo começa a dividir com o resto da nação as malas repletas de cédulas alopradas que a União lhe entrega em forma de publicidade. Daí a ira natural, pois aqui em Minas se diz que homem só briga por duas coisas: barra de saia ou barra de ouro.

O que me espanta é que, movidos pela repulsa, tenham deixado de perceber que o brasileiro não é dançarino de valsa, é passista de samba. O patuá que vocês querem enfiar em Lula é o do negrinho do pastoreio, obrigado a abaixar a cabeça quando ameaçado pelo relho. O sotaque que vocês gostam é o nhém-nhém-nhém grã-fino de FHC, o da simulação, da dissimulação, da bata paramentada por láureas universitárias. Não importa se o conteúdo é grosseiro, inoportuno ou hipócrita (“esqueçam o que eu escrevi”, “ tenho um pé na senzala” “o resultado foi um trabalho de Deus”). O que vale é a forma, o estilo envernizado.

As pessoas com quem converso não falam assim – falam como Lula. Elas também xingam quando são injustiçadas. Elas gritam quando não são ouvidas, esperneiam quando querem lhe tapar a boca. A uma imprensa desacostumada ao direito de resposta e viciada em montar manchetes falsas e armações ilimitadas (seu jornal chegou ao ponto de, há poucos dias, “manchetar” a “queda” de Dilma nas pesquisas, quando ela saiu do primeiro turno com 47% e já entrou no segundo com 53 ) ficou impossível falar com candura. Ao operário no poder vocês exigem a “liturgia” do cargo. Ao togado basta o cinismo.

Se houve erro nas falas de Lula isto não o faz menor, como você disse, imitando o Aécio. Gritos apaixonados durante uma disputa sórdida não diminuem a importância histórica de um governo que fez a maior revolução social de nossa História. E ainda querem que, no final de mandato, o presidente aguente calado a campanha eleitoral mais baixa, desqualificada e mesquinha desde que Collor levou a ex-mulher de Lula à TV.

Sordidez que foi iniciada por um vendaval apócrifo de ultrajes contra Dilma na internet, seguida das subterrâneas ações de Índio da Costa junto a igrejas e da covarde declaração de Monica Serra sobre a “matança de criancinhas”, enfiando o manto de Herodes em Dilma. Esse cambapé de uma candidata a primeira dama – que teve o desplante de viajar ao seu país paramentada de beata de procissão, carregando uma réplica da padroeira só para explorar o drama dos mineiros chilenos no horário eleitoral – passou em branco nos editoriais. Ela é “acadêmica”.

A esta senhora e ao seu marido você deveria também exigir “caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade”.

Você não vai “decidir” que Lula ficou menor, não. A História não está sendo mais escrita só por essa súcia de jornais e televisões à qual você pertence. Há centenas de pessoas que, de graça, sem soldos de marinhos, mesquitas, frias ou civitas, estão mostrando ao país o outro lado, a face oculta da lua. Se não houvesse a democracia da internet vocês continuariam ladrando sozinhos nas terras brasileiras, segurando nas rédeas o medo e o silêncio dos carneiros.

Carlos Torres Moura

Além Paraíba-MG

24.10.10

Acorda eleitor!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Que saco! Até quando a questão da legalização do aborto vai servir de fator X nas eleições presidenciais no Brasil??
É sempre a mesma lenga lenga. A cada eleição presidencial uns são atacados como matadores de criancinhas e outros se arvoram em defensores da vida.
No caso desta eleição a matadora é a Dilma e o Serra - cuja mulher, segundo foi noticiado na mídia, abortou - é o defensor da vida.
Ora, faça-me o favor. Não sei se a estupidez maior é de quem fomenta esse tipo de discussão, com fins escusos ou se quem aceita desviar a atenção daquilo que realmente deve nos mover na hora de eleger um presidente.
Não vou nem entrar na questão da legalização do aborto, porque o que me interessa falar aqui é justamente daquilo que este tema tem deixado em segundo plano, mas seria tão bom que as pessoas deixassem de ser hipócritas e resolvessem discutir as questões com um pouquinho mais de profundidade.
Helllôôu, é uma eleição presidencial...se elegerá um presidente, tipo assim, aquele cara que governará o país, entende? Não é um plebiscito sobre a legalização do aborto.
Quem instrumentaliza a Igreja, manda sms dizendo que o adversário come criancinhas e coisas do gênero está desrespeitando você, eleitor e quem te desrespeita na eleição, vai te desrespeitar no governo também.
Tudo bem que na superfície se anda mais rápido, mas pelo amor de Deus minha gente, aprofunda um pouquinho as questões, mesmo que seja só de 4 em 4 anos.