30.3.09

Lisbon Revisited (24.06.1926)

Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja –
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas por dentro de todas as hipóteses que eu poderia ver na rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram,

Acordei a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta – até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
...
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos, todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver
De volta depois de um passeio inusitado, vendo o Rio se iluminar sob uma novíssima ótica, queria desejar a todos uma boa semana e dizer que penso em muitas coisas para escrever aqui. Algumas não posso, outras não devo e até aproveito para dizer que o meu objetivo não é contar o meu dia-a-dia, mas sim o que ele me faz pensar, sacar, desejar, rejeitar, descobrir, enfim, aqui é um espaço para eu colocar algumas das coisas que vejo e penso, sob o meu ponto de vista.
Às vezes também falta tempo para sentar e escrever do jeito que eu queria. Tenho vivido uma fase muito estranha, onde acontecem coisas incrivelmente boas, junto a outras que caminham na direção oposta.
Já disse antes - e não quero entrar em detalhes - que venho de um momento duro em 2008, com um problema grave, que espero tenha acabado para sempre e outro muito triste, que me provocou uma das maiores decepções, senão a maior que já tive.
Felizmente a vida não é feita só de tristezas e tenho tido também momentos muito especiais. Tudo isso me traz "spunti" (sorry, mas não consigui achar um sinônimo em portugues) que poderiam transformar-se em posts, mas há coisas que não dá para partilhar.
De qualquer forma, meus poucos e bons leitores, desculpem-me se sou tantas vezes redundante, mas esse é o meu momento.
Vou deixar agora alguns poemas do meu amado, aliás, amadíssimo Fernando Pessoa. Acho que dele todos vocês gostam, não é?
Além de A, penso que ele é a única pessoa que conhece e compreende(e já conhecia e compreendia antes mesmo do meu nascimento) o que penso e sinto.
Se não houvesse outra boa razão para falar portugues, me bastaria o fato de poder ler no original os poemas desse poeta maior, cheio de inquietações, fragmentações, incompreensões e beleza. Eu amo Fernando Pessoa.


Tabacaria (15.01.1928)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim, todos os sonhos do mundo.

(Esse poderia ser o meu epitáfio)

29.3.09

Recebi essas duas mensagens (abaixo em negrito) e as coloco aqui para que meus novos amigos também reflitam sobre esses temas.
No primeiro caso, sou plenamente de acordo que devemos procurar entender as coisas, as razões, os mecanismos que podem, eventualmente, ter desencadeado um problema, uma doença, um golpe baixo e tal.
Infelizmente acho difícil escapar da primeira pergunta que é o famoso por quê.
É natural que a gente se pergunte por que tem uma doença, mesmo tendo tomado todos os cuidados para evitá-la, por exemplo. Ou por que uma pessoa a quem dedicamos afeto, lealdade e carinho nos golpeia pelas costas, de um modo que só esperávamos de um inimigo.
Não sei para vocês, mas para mim é inevitável não me perguntar o por quê disso. Mas, passada essa primeira fase, começo a questionar-me para que, o que posso fazer com aquilo, com aquela experiência.
O "para que" é mais útil, pois a decisão passa às nossas próprias mãos. Se não posso responder o por quê de uma doença ou de uma traição, já que são coisas que aconteceram ou foram decididas independentes da minha vontade, posso ao menos escolher o que vou fazer com essas descobertas. Então, é melhor nos fixarmos no que podemos fazer em vez de perder tempo em compreender o incompreensível.
Mas, no meu caso, o fato de não entender o por quê afeta o caminho até à fase seguinte e isso serve para ações cometidas por mim ou pelos outros.
A segunda frase é, de certo modo, um complemento da primeira, pois fala em discernimento, em visão global, em contextualização de um fato.
As coisas não acontecem por acaso. Mesmo quando não entendemos (porque não há o que entender), as atitudes têm sempre uma motivação para quem as pratica.
Não é certo matar alguém, mas se é em legítima defesa, se é você ou a outra pessoa, acho que se pode compreender a ação (motivação), mesmo que isso não a justifique.
O entendimento traz às situações elementos que transformam-se em atenuantes ou agravantes.
Foi o que eu quis dizer, quando afirmei que, para mim, o entendimento é fundamental para que eu passe mais tranquilamente para a fase do "para que".
Pensem nisso, amiguinhos. Espero não estar sendo chata em propor sempre a reflexão, (na verdade proponho também muita alegria, otimismo, confiança, música, dança, beijo na boca e tudo o que lhes fizer felizes), mas se tenho esse blog é para escrever sobre coisas que interessam a mim ou me fazem pensar. Antes era mesmo um "diário" de mim para mim mesma. Curiosamente, desde que fechei os comentários, os e-mails passaram a ser um retorno inesperado e muito legal.
Sempre fui e acho que, a cada dia, torno-me mais reflexiva. Mas isso, na minha modestíssima opinião, é muito positivo, pois passar a vida agindo como máquina é coisa para máquinas e não para seres humanos. Espero que vocês concordem e me digam, ok?
Aqui estão as frases:

"Descobrir sinais, fazer uma leitura mais profunda da realidade. Há pessoas que dizem ser muito realistas mas no fundo não são, são até um pouco infantis, vivem o imediatismo das emoções, dos impactos, e não param um momento para se distanciar, dar um passo atrás para ver o conjunto e reflectir. "Bom, mas o que é que está aqui por trás?! De onde é que isto vem? Aonde é que isto leva?" Fazer à realidade as perguntas certas, porque acontece muito não as fazermos. Por exemplo, diante de uma doença, de um choque familiar, de um problema laboral, perguntamos logo: "Porquê? Que mal fiz eu a Deus? Porque é que me havia de acontecer isto a mim?" E esta é a pergunta errada!"

"O discernimento é um grande desafio. Não significa aspirar ao quimicamente puro mas ao globalmente construtivo. O problema ao ajuizar sobre uma situação é ver se há razões suficientes para optar num sentido ou noutro e vê-las no seu conjunto, não fazer nem ficar preso a um juízo limitado, de pormenor, que impede de ver a globalidade dos problemas."
Vasco P. Magalhães

Consumismo e infantilização

Estava conversando esses dias sobre como o consumismo nos infantiliza. Parecemos sempre crianças querendo alguma coisa e frustrando-nos por não tê-la.
Sei que é muito difícil ver a coisa por esse prisma, porque a idéia da necessidade das coisas já está muito incutida em nós, então, não sabemos bem a diferença entre o que queremos e o que precisamos.
Proponho um exercício para quem gosta de passear em shopping: que tal olhar as vitrines e publicidades com uma espécie de olhar ao contrário, ou seja, vendo tudo o que não precisamos.
Uma alternativa seria separar o que precisamos daquilo que apenas desejamos (depois a gente pensa na razão do "precisar").
Aguardo suas opiniões, meus queridos "emailístas".

Y réfléchissons

La réalité n'est pas un adversaire.

Quelqu'un M'a Dit (Carla Bruni)








On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux

Refrain:
Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?

On dit que le destin se moque bien de nous
Qu'il ne nous donne rien et qu'il nous promet tout
Parait qu'le bonheur est à portée de main,
Alors on tend la main et on se retrouve fou

Au refrain

Mais qui est ce qui m'a dit que toujours tu m'aimais?
Je ne me souviens plus c'était tard dans la nuit,
J'entend encore la voix, mais je ne vois plus les traits
"il vous aime, c'est secret, lui dites pas que j'vous l'ai dit"

Tu vois quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore, me l'a t'on vraiment dit...
Que tu m'aimais encore, serais ce possible alors ?

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses
On me dit que le temps qui glisse est un salaud
Que de nos tristesses il s'en fait des manteaux,

Au refrain

28.3.09

Mário Quintana


Sonhar é acordar-se para dentro.

Miguel de Cervantes

A verdade alivia mais do que machuca. E estará sempre acima de
qualquer falsidade como o óleo sobre a água.

26.3.09

Ainda estou meio triste em função dos fatos recentes, mas a vida segue e o tempo se encarrega de colocar tudo no lugar.
Hoje alguém me disse que o tempo é uma espécie de borracha que apaga tudo. Não acho que apague tudo. O que é importante fica, especialmente o que é bom.
Acho mesmo que o tempo é o maior indicador da importância que cada coisa ou pessoa tem nas nossas vidas. Às vezes nos lembramos de algo que aconteceu na nossa infância mais remota ou de pessoas que conhecemos e não vemos há muito tempo, mas que ficaram ali registradas para sempre (isso tem a ver com o que eu comentava sobre eternidade e amor).
Tive um amigo, ou melhor, conheci uma pessoa e pensei que fosse um amigo. Dediquei a ele uma amizade fraternal, de verdade. Digamos que fomos muito ligados, mas o sentimento que ele tinha por mim foi pontual e passou.
Um dia, sem quê nem por quê, ele encerrou um longo período de silêncio, tratando-me como uma estranha, porque isso resolvia um problema que ele próprio havia criado. A história é longa e não é o caso de contá-la.
Então, naquele exato instante eu senti que alguma coisa se partiu. Ele estava abaixado, arrumando uma mala. Ao me ver continuou na mesma posição, olhou para cima e disse “boa noite”. Respondi. Algum tempo antes eu ansiava pelo momento de encontrá-lo, para entender a razão da sua ausência. Queria que ele me explicasse, me contasse, me dissesse por que tinha se afastado, se estava com algum problema ou triste.
Depois desse momento não sobrou em mim a mais longínqua vontade de perguntar, ouvir, falar. Foi como se uma porta se fechasse e eu entendesse que não havia razão para tentar abri-la.
Não me lembro se pensei alguma coisa naquele momento. A única recordação que tenho, é que senti como se algo se quebrasse.
Sabe aquele coisa que a gente aprende sobre Adão e Eva no Paraíso, quando de repente começam a se envergonhar dos próprios corpos? Pois é, foi alguma coisa assim. De repente eu não me sentia à vontade na presença daquele estranho.
Estávamos na companhia de outros amigos e, como ele estava se despedindo, fomos todos jantar em um restaurante indiano. Fui por ir, assim como quem não quer criar clima e, de qualquer forma, estava com vontade de experimentar a comida.
Durante o jantar ele contou algumas piadas e, segundo me contaram, olhava para ver a minha reação. Eu esboçava um sorriso, para não ser desagradável aos outros, mas na maioria das vezes era um gesto automático, porque sequer prestava atenção ao que ele dizia.
Depois desse dia nunca mais pensei nele. Já falei sobre ele, porque tínhamos amigos e comum e as pessoas perguntavam. Mas nunca mais pensei nele ou senti a sua falta. Nunca me lembro de alguma coisa ou circunstância que esteja relacionada a ele. O que mais me espanta é que isto não acontece em função de algum esforço meu. Simplesmente é como se aquele período fosse ficando nebuloso, até desaparecer.
Quando penso a respeito disso ainda tenho uma sensação estranha. Eu gostava tanto dele, o considerava um irmão mais velho. Ele foi o único homem que conheci (que não era gay) que tinha curiosidade genuína pelo universo feminino. Era meio poeta, quando nos conhecemos. Virávamos noites conversando. Trocávamos experiências, falávamos de tudo e eu me sentia super à vontade com ele. Acho que naquela época não havia nenhuma amiga (mulher) com quem eu gostasse tanto de conversar e tivesse tanto assunto. Dormimos várias vezes na mesma cama, mas era como se eu estivesse dormindo com o meu irmão e tenho certeza de que ele também nunca teve qualquer pensamento sexual a meu respeito.
Parecíamos almas gêmeas, porque nos entendíamos até pelo olhar, mas nunca houve qualquer clima “homem-mulher”.
Outro dia, achei uma caixa com várias cartas que ele me escreveu. Minha sensação foi a de ler a carta de alguém que morreu. Nem me lembrava que as tinha e só não as joguei fora, porque algumas são respostas a cartas que eu mesma escrevi e, por isso, há coisas ali que dizem respeito a mim mesma. Como se fosse o espelho em que eu me olhava naquele momento.
Acho que ele morreu no exato instante em que senti “aquela coisa” se partindo. Não senti raiva. Não senti vontade de falar. Não pensei em nada.
Já o vi duas vezes depois disso. Nas duas vezes a minha idéia de estar vendo um defunto foi reforçada pela aparência dele. Pálido, curvado, com uma expressão de velho. Nem um traço daquele cara alegre, engraçado, alto astral.
Acho que ele pagou caro pelas escolhas que fez. Digo isso não só pela impressão que tive ao vê-lo, mas por relatos de pessoas muito próximas a ele, que gostam de me transmitir notícias que não desejo saber.
Nunca pensei que poderia apagar da minha vida e das minhas lembranças uma pessoa que teve aquele nível de importância para mim. Mas não fiz nenhum esforço.
Como diz a minha mãe, o coração dos outros é terra que ninguém conhece. Às vezes isso vale até para o meu próprio.

25.3.09

What a wonderful world

And I think to myself what a wonderful world. Yes, I think to myself what a wonderful world.

23.3.09

Paulo Leminski

Haja hoje para tanto ontem.

Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além.

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Lá embaixo
vai ter
o que eu acho

Vinte e três de março


Que essa data se repita muitas vezes e que eu esteja sempre saudável e feliz, até ficar bem velhinha e sábia o suficiente para não ter medo de partir.

Amor = Vida

Semana movimentada, coisas que não andam, um leve inferno astral, a morte do C e a avalanche de pensamentos que a morte sempre me traz.
Definitivamente quando o assunto é esse, caio do salto. Não sei o que dizer, não sei o que pensar. Fico meio à deriva, perdida, indo para lá e para cá, ao sabor dos pensamentos, lembranças e até insights que acabam salvando a pátria.
Tenho uma sensação de terror diante do “nunca mais”.
Não é um nunca mais que a gente escolhe, como quando não quer mais ver uma pessoa ou ir a um lugar. É uma imposição e diante dela não se pode fazer nada. Não adianta sofrer, protestar, chorar, questionar. Acabou e pronto.
Uma das razões pelas quais as pessoas querem ter filhos, não é, objetivamente a conservação da espécie humana em geral (pelo menos ninguém deve pensar nisso conscientemente), mas por um tipo de prolongamento da própria vida, através dos descendentes. Claro que a preservação da espécie fica assegurada, mas eu, por exemplo, não me vejo representada apenas pelos meus genes. Sou mais do que a soma deles.
Acho que a única forma de continuação – ainda que não eterna – é o amor que a gente sente e recebe, planta e colhe. Quem a gente ama só morre, quando morremos também.
Algumas pessoas que conheci e já morreram, continuarão vivas em mim, enquanto eu viver. Nem todas me transmitiram genes, mas todas me deram um amor que correspondo e agradeço, independente das suas mortes.
Acho que minha necessidade de amor intenso, profundo e verdadeiro talvez seja um modo de negar a morte, de não morrer e não perder quem eu amo.
C e eu não éramos íntimos, mas sua morte me abalou muito. Chorei potes. Suas palavras eram sempre muito sábias, ainda que houvesse muita agressividade no modo de expressar-se.
Acho que, no fundo, só queria se sentir amado e combatia um grande sentimento de inferioridade, que existiu mesmo ele sendo a pessoa importante que foi.
Fiquei realmente triste e ainda estou. Ele vai continuar vivo nos corações onde semeou o amor. Essa é a única eternidade possível.

22.3.09

O Que Você Faria?

Meu amor o que você faria?
Se só te restasse um dia
Se O mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?

Ia manter sua agenda
de almoço hora apatia
Ou ia esperar os seus amigos
Na sua sala vazia

Meu amor o que você faria?
Se só te restasse um dia
Se O mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?

Corria pra um shopping center
Ou para uma academia
Pra se esquecer que não da tempo
Pro tempo que já se perdia

Meu amor o que você faria?
Se só te restasse esse dia
Se O mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?

Andava pelado na chuva
Corria no meio da rua
Entrava de roupa no mar
Trepava sem camisinha

Meu amor o que você faria?o que você faria?
Abria a porta do Hospício
Trancava da delegacia
Dinamitava o meu carro
Parava o tráfego e ria

Meu amor o que você faria?
Se só te restasse esse dia
Se O mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?
Moska)

Felicidade. O que é, o que é?



Outro dia, passeando numa livraria, observei que há uma quantidade imensa de livros ensinando a gente a ser feliz. Se há tantos livros, deve haver muitos leitores.
Como dentro da minha cabecinha há um motor que roda incessantemente, fiquei pensando na grande massa de pessoas infelizes que vão levando a vida, distraindo-se com as compras, com os ilusórios enganos.
Não sei se ser feliz é algo simples ou complexo. Se pensar nas coisas que me fariam feliz, acho que é simples, pois elas e só elas me bastariam. Se pensar no que posso realmente esperar, aí tudo se torna mais complexo.
Primeiramente porque há coisas que pertencem à natureza, à vida, ao destino. Um exemplo: para sentir-me feliz, preciso estar bem de saúde e saber que as pessoas que amo também estão. Isso não depende totalmente de mim e nem mesmo delas, logo, é um fator sobre o qual, para contar, preciso de uma ajuda lá de cima.
Em segundo lugar o que me deixaria feliz é amar e ser amada ao mesmo tempo, pela mesma pessoa. Também este fator entra no universo das coisas sobre as quais não tenho controle. Não posso escolher a quem amar e menos ainda fazer com que esse alguém me ame. Às vezes o coração escolhe bem e outras não. Às vezes somos nós a não conseguir corresponder ao amor de alguém. Nesta espécie de loteria, onde poucos ganham mais de uma vez o primeiro prêmio, quem o tiver conquistado uma única vez já pode se considerar um vencedor.
Até há alguns anos atrás o meu sucesso profissional também fazia parte das coisas que eu colocava na minha lista “para ser feliz”. Hoje penso que isso é importantíssimo sim e não saiu totalmente da lista.
Primeiro porque a sensação de estar produzindo alguma coisa é muito compensadora. Depois porque o mundo em que vivemos é materialista e sem dinheiro quase nada acontece (exceto aquelas duas que citei antes e por isso mesmo são as mais valiosas). Tenho algumas frustrações profissionais. Muito provavelmente cometi erros ao fazer certas escolhas, mas hoje sei que o que eu gostaria realmente de produzir não tem muita relação com o trabalho que sempre fiz.
Quem sabe ainda há tempo para começar um caminho novo?
Dinheiro é importante, claro. A gente pode até se resignar com aquelas frases tipo: “o dinheiro não trás felicidade”. Em parte é verdade, porque há coisas tão essenciais quanto incompráveis. Mas se ele não a trás, com ele a gente manda comprar uma parte dela (a material, ao menos) e tem a tranquilidade de ser independente. Resumindo: o dinheiro é um fator a ser considerado, porque a falta dele trás uma infinidade de problemas. Mas não é ele que nos define felizes ou infelizes.
Às vezes a felicidade está perto de nós e não a vemos. Às vezes parece algo distante ou inatingível. Às vezes a gente só se dá conta dela, quando perde. Às vezes a gente sabe que a tem e joga fora mesmo assim. Às vezes a gente entende que não a tinha. Às vezes luta por ela. Às vezes desiste. Às vezes passa a vida apenas sonhando com ela. Às vezes a vive intensamente.
Há pessoas admiráveis que nascem felizes e seguem assim, não importa o que lhes aconteça, porque para esses privilegiados a felicidade é um estado de espírito constante, um modo sábio de ver a vida.
Há, ao contrário, os que nunca serão felizes, não importa o que lhes aconteça.
No meio dessas variações cria-se o mercado livre para os vendedores de felicidade: há quem venda o céu, a eternidade, a arte de prosperar, o sexo, as fantasias, o carro, o novo modelo de celular, uma imagem e um sem número de coisas (incluindo o chocolate..hehe) que não tapam o imenso buraco das nossas carências.
Ultimamente tenho alternado, com relativa frequência, a sensação de felicidade/não felicidade. Não digo que me sinta infeliz, talvez venha tendo momentos de tristeza, mas acho que isso é diferente de sentir-me infeliz.
Nos últimos meses vivi situações difíceis. Uma em especial me trouxe muito medo, principalmente de perder a minha alegria, de passar por provas duras demais e mesmo de morrer.
Ainda sinto um pouco desse medo. Digamos que tive muita sorte ou Deus quis só me dar um susto, para que eu recolocasse a cabeça no lugar e visse o que realmente é importante na minha vida, o quanto ela pode ser curta e não esquecesse de quem eu sou (ou buscasse descobrir mais sobre mim mesma). Ainda não metabolizei tudo e há momentos em que esse medo volta.
Apesar de não ter nada contra os livros de auto-ajuda, saí da livraria sem nenhum que me ensinasse a ser feliz, mas sigo antenada, esperando que a maturidade, os tropeços, os sustos e o que de positivo essas experiências me deram, sejam aliados preciosos. Eu tenho vocação para ser feliz.
Foto: bemsimples.uol.com.br

Em 22 de março de 2009 pensando

Torquato Neto
Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.
........................
...........................
...........................
Leminski

Nunca sei ao certo
se sou um menino de dúvidas
ou um homem de fé
certezas o vento leva
só dúvidas ficam de pé
............................
Amor Bastante
quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
..........................
..........................
Quintana

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!
.....................................
Amar: Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer…
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada nasceram sussurros
e palavras mudas que te dediquei…

O amor é quando a gente mora um no outro
.....................................
.....................................

Carlos Drummond de Andrade

Amor e seu Tempo
Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.
..................................
O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

20.3.09

Eu sou o que sou e ela é o que é..simple comme bonjour.


Aos meus poucos (mas bons) novos amigos, peço desculpas pelo blog tão sem novidades.
Os dias tem sido movimentados e durante a semana é mesmo difícil ter vontade e paciência para a internet. O mesmo vale para os e-mails. A vida urge! Além disso, levei um sustinho essa semana.
Para a curiosa que perguntou da "vingança", respondo que sim, a maluca me ligou, mas eu disse simplesmente que estava muito ocupada e tinha certeza de que ela resolveria tudo da melhor forma. Desejei boa sorte e desliguei.
Na semana anterior fiquei com raiva e pensei em dizer o "sonoro não", quando ela me procurasse, mas sabe de uma coisa? Há um certo tipo de gente que só merece o desprezo, a distância, o esquecimento. Isso acontece naturalmente, graças a Deus.
Devo dizer que sou uma pessoa de sorte, pois para cada pessoa desprezível conheço outra que me faz de novo acreditar que o ser humano não é de todo inviável, mas quero evitar os encontros negativos, porque, num primeiro momento, eles exaltam o que eu tenho de pior e mais frágil.
Desculpem-me se pareço amarga, às vezes. Não sou, mas fico mesmo. Normalmente sou alegre e bem disposta, mas quando me deparo com o "lado negro da força" me abato por um tempo. Depois passa.
A pessoa que citei há alguns dias tem uma vida super vazia. Acho até que isso contribuiu para que eu tivesse vontade de ajudá-la. Ela foi, no mínimo, indelicada comigo e isso me aborreceu, claro. Mas a bem da verdade, ela é o que é e eu sou o que sou. Mesmo que ela vista uma máscara e engane por algum tempo, um dia a máscara cai, como caiu para mim. Isso é líquido e certo.
Acho que todos vocês conhecem aquela história da rã e do escorpião. Ela confiou e ele prometeu não lhe fazer mal. Ao fim, depois de ter conseguido o que queria, ele descumpriu a promessa e, diante do por quê da rã, respondeu: é a minha natureza.
É isso, meus poucos e já queridos amigos, lidar com a natureza humana não é tarefa fácil. A gente se fere e se alegra. O negócio é não desistir.
No caso da maluca em questão, quem perdeu? Talvez eu tenha perdido um pouco do meu tempo, mas não chega a ser grave. Ela omitiu a maneira como as coisas realmente se resolveram, mas eu sabia como tinha sido e, ainda que seja maluca, ela também. A quem ela enganou? Ao ouvinte? E daí? Que vantagem tirou? No fundo ela foi a única a se ferrar.
Agora não tenho nenhuma intensão de fazer mais nada, nem ajudar, nem prejudicar.
Daqui a alguns dias nem vou me lembrar disso (o blog é uma espécie de memória viva), porque cultivar mágoa só faz mal para a gente, envenena o nosso sangue.
Inevitavelmente, a gente vai ficando de pé atrás geral, mas fazer o quê?

Foto:"Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Idiomáticas" de Marcelo Zocchio e Everton Ballardin

15.3.09


J'prends la route de South Park et j'oublie toutes mes galères !

Renato Russo

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Porque se você parar pra pensar, na verdade não há."

Quando se pensa que pode não haver o amanhã, dá uma vontade de fazer tudo ao mesmo tempo agora. No entanto se percebe que o mais importante não é a quantidade, mas a qualidade do que se faz.
Isso vale para tudo, na verdade. Comer é bom, mas (gula a parte) a gente se lembra com saudade e água na boca de alguma coisa muito boa, com aroma, gosto, cheiro, textura e não das milhares de bobagens que comemos.
Sexo é bom, mas fazê-lo correndo só é bom para ejaculador precoce. Se for com amor é o máximo. Se houver tempo, vontade, fantasia, criatividade e muito tesão melhor ainda. Agora, pensa bem: juntar tudo isso é difícil, não é?

Há dias que tenho medo do amanhã ser curto ou complicado, de perder a alegria que sempre me acompanhou, de não ter uma menina curiosa dentro de mim, de não sonhar coisas aparentemente impossíveis.

Mas aí eu paro e penso: vive hoje e pensa positivo no amanhã. Tudo vai dar certo.

14.3.09

Friedrich Nietzsche

Torna-te quem tu és.

Sócrates


Se o desonesto conhecesse as vantagens de ser honesto,
seria honesto ao menos por desonestidade.

Só sei que nada sei.

Saudade bem traduzida

Uma palavra bastante conhecida e pouco entendida, no primeiro momento, pelos estrangeiros é saudade. Saudade é sentir falta, lembrar, ficar triste ou feliz, querer de novo, saber que nunca mais vai ter ou ver, enfim, a saudade é mais sentida que definida.
Entretanto ouvi uma definição muito bonita: saudade c´est, peut-être, l´amour qui reste.

Psicopatas


A semana que passou foi ótima, com pequenas delicadezas, um pouquinho de correria, lua cheia, boas e frutíferas conversas, um pequeno susto, muita ralação e o sol que tanto amo. Mas quero deixar aqui registrado um fato, porque às vezes eu me esqueço a razão de ter o pé atrás com alguém.
Este fato específico não quero esquecer e aproveito para divagar em torno do tema, pois o assunto sempre me chamou a atenção.

Resumindo: uma pessoa que não chega a ser muito próxima, mas que conheço há muito tempo me expôs uma situação problemática há uns meses atrás e a ajudei a resolvê-la.
Muito bem. Não tive que fazer imensos esforços, mas acabei ocupando outra pessoa, perdendo o meu tempo a descobrir endereços, enfim, tive que me mexer e o fiz com boa vontade.
Na semana passada essa pessoa contou para uma outra, na minha frente, como ela tinha resolvido aquela questão, que ela falou com fulano, que ela procurou tal pessoa, enfim, que ela conseguiu resolver o problema. Assim, como se eu não tivesse feito nada, que não tivesse eu sido a ponte a ligar os vários pontos desconexos e como se eu não estivesse ali escutando aquilo.
A única citação que fez à minha humilde e inútil pessoa (aparantemente ela me vê útil ou inútil dependendo do momento), foi a de que ela havia me contado o seu problema.

Juro que fiquei ouvindo sem acreditar. Esperei até o fim para ver se ela ao menos mencionava o meu nome, mas a heroína do filme era ela. Ela precisava impressionar o ouvinte (não acredito que tenha rolado um interesse por ele, até porque teria sido totalmente inútil, mas não descarto) e por isso ELA precisasse usar todos os verbos na primeira pessoa. Enfin, bref.
Fiquei alguns segundos imersa em uma espécie de branco, quase acreditando que a coisa toda tivesse se desenrolado como ela contou.

Quem lê esse comentário (e pensa como a pessoa que me escreveu dizendo que eu estava defendendo a morte, ao falar da legalização do aborto) pode pensar que eu queria os louros da glória e me indignei ao não ser mencionada como a "solucionadora" do caso.
Não é nada disso. Fi-lo porque qui-lo e pronto.
O buraco é um poquinho mais embaixo e à esta questão junto uma outra semelhante.

Já observaram que nas entrevistas, ao serem perguntadas pelos seus defeitos, as pessoas respondem, quase invariavelmente, que são muito perfeccionistas?
Esse é o defeito máximo que as pessoas costumam confessar.
Ok. Realmente isso é um graaaaaande defeito. Mas será que alguém sente inveja, ódio, raiva, vontade de matar (de preferência parando na vontade, porque a civilização já avançou um pouco, né?)? Será que esse povo mente, é injusto, sacaneia um amigo, atropela a ética, chuta cachorro morto? Ou só eu tenho outros defeitos além do perfeccionismo?

Mundo estranho esse. Todos são tão bons. Provavelmente são os marcianos que descem à Terra para fazer toda a sorte de atrocidades.

Fiquei chocada, quando ouvi aquele relato. Não exatamente por não ter sido citada, pois eu sei como as coisas realmente aconteceram, e nem mesmo por ter ajudado. O que me deixou muito espantada foi a cara de pau, a desfaçatez, a "semloçãozice" total da pessoa. E olha que a coisa ainda não está totalmente resolvida. Imagina se estivesse.

Fiquei pensando na quantidade de psicopatas que nos cercam. Andei lendo o livro da Ana Beatriz, que fala sobre isso e fiquei bege ao descobrir certos mecanismos, pois a gente tende a pensar que essas pessoas são somente os serial killers distantes da nossa realidade.
Segundo a autora, esses são os casos graves, mas no dia a dia encontramos os psicopatas de grau leve e moderado, que embora não matem, nos podem causar muitos danos materiais e/ou emocionais. Os psicóticos podem até nos parecer mais perigosos, mas eles raramente ferem os outros. Suas maiores vítimas são eles mesmos.
Já o psicopata tem perfeita noção do que está fazendo. É mau feito pica pau. Não se importa com o mal que causa ao outro, desde que atinja os seus objetivos.
A Ana Beatriz está dando o suporte técnico para a Gloria Perez desenvolver esse assunto.


Lembrei de uma pessoa que é totalmente psicopata (eu não sabia que se chamava assim tecnicamente). Ela mente sem o mais leve e básico receio. Das mentiras mais convincentes à outras totalmente delirantes, tipo: ganhou presentes do presidente Kenedy, é da família de Pelé, tem título de nobreza, casa na riviera francesa e tal. A mentira é parte integrante da vida dela. Há sempre algo a esconder, a omitir. Há sempre uma segunda intenção velada. Nada é claro. Acho que o máximo que ela pode dizer é uma meia verdade, cujo objetivo é desviar a atenção da mentira que vem a seguir ou foi contada antes. Inventa coisas. Acredita que jamais será descoberta e, se for, desmente. Afirma com a maior tranquilidade que a mentira é verdade.
Essa pessoa existe e eu a conheço há muitos anos. Já ri muito por conta dos delírios dela e sempre fingi acreditar no que ela dizia, pois maluco a gente não contraria.

Para mim ela é um caso especial de psicopata hard-light. Mas isso não chega a ser uma vantagem, pois a conheço desde criança. Mas pessoas ingênuas (e existem...eu também conheço) podem acreditar naquelas mentiras, ainda que sejam absurdas e facilmente verificáveis.
Ela, confirmando a descrição de psicopata, sabe calcular o que dizer a cada pessoa.
É hard porque não tem limites na quantidade de mentiras e mesmo na maldade (e sem uma gota de sentimento de culpa). Mas é light na qualidade das mentiras.
Também conheçi algumas de suas vítimas. Por incrível que possa parecer, há pessoas que levam anos para perceber quem ela é. Depois de ler o livro fiquei pensando que ela é mais perigosa e menos divertida do que eu imaginava.
Voltando à maluca anterior, claro que não vou passar por cima disso (eu, a exemplo do meu amado Fernando Pessoa, me confesso humana)e se essa ela me pedir um copo d´água, vai morrer de sede.

Certamente se tivesse dado tudo errado, se as minhas orientações falhassem, o endereço não ser o que eu descobri, enfim, se tivesse dado algum problema, claro que eu seria a responsável. Ao contar a história ela diria: contei o meu problema e ela (eu) disse que ia me ajudar, aí fez isso e aquilo e o problema só aumentou.
Isso é típico desse tipo de pessoa. A segunda pessoa do singular e a primeira do plural servem quando o verbo está relacionado ao erro cometido. As coisas que dão certo estão sempre na primeira pessoa.

Cara, por mais que eu me esforce, não consigo entender isso. Esse tipo de pessoa é mesmo psicopata, sem sentimentos (menos ainda culpa ou gratidão)e passa por cima de qualquer um sem ao menos notar. É caso para psiquiatra. Ela olhava para mim e para a outra pessoa e continuava a contar tudo o que tinha feito. Surreal total!!

Talvez o meu narcisimo ou egocentrismo precisem ser melhor trabalhados, mas acho que é uma questão de ser honesta e justa ou, em outras palavras, dizer a verdade. Talvez seja aí que resida o problema.

Não falei nada, embora tenha feito um enorme esforço para isso. Mas essa pessoa perdeu todas as chances comigo. Never more. Jamais. Mai più.
O bom é que eu sei que ela vai me pedir ajuda de novo, porque a coisa não foi totalmente resolvida e eu ainda poderia ajudar. Poderia, mas não vou. E não sinto a menor culpa. Não sou santa e a minha bobeira é limitada.
O que ameniza o meu choque (além da alegria de dizer um sonoro não nos próximos dias...ou simplesmente dar a ela a importância que tem, ou seja, nenhuma e sequer responder) é pensar em quão pequena essa pessoa é, na sua baixíssima auto-estima, no quanto mente para si própria, já que ela sabe perfeitamente que fui eu quem viabilizou a solução do problema e que tive a maior boa vontade, porque não somos sequer muito próximas, apesar dos anos.
Como dizia Ibrahim, os cães ladram e a caravana passa ou, sendo mais poética, repito Mario Quintana: "eles passarão, eu passarinho".


Detalhe: no final da conversa ela teve a cara de pau de me dizer (em particular, claro) que ia me ligar para falar da continuação do caso e do que nós podíamos fazer. É normal???? Socorro!!!!!!!!!!!!!!!
Nada mais adequado a este post do que o grande Fernando Pessoa em seu

Poema em linha reta
(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Foto:"Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Idiomáticas" de Marcelo Zocchio e Everton Ballardin

12.3.09

As prioridades estabelecidas dizem muito sobre nós.
Ontem foi uma linda noite de lua cheia.

Entre injustiça e absurdos

Já se falou muito sobre o caso da menina de 9 anos, estuprada desde os 6 pelo padrasto, supostamente sem o conhecimento da mãe.
Honestamente acho que uma criança abusada por 3 anos tem que dar algum sinal e se a mãe não sabia do abuso, teria que ter notado alguma coisa no comportamento da criança, mas para isso seria preciso estar atenta.
O padrasto não se contentou em abusar de uma criança de 6 anos e fez o mesmo com a irmã, deficiente (não sei se física ou mental). Enfim, o típico caso de mundo cão.
Mas o que eu gostaria de deixar registrado aqui é a minha indignação com esse bispo de Olinda e Recife e com todos os que aprovaram a decisão dele de excomungar os pais da menina, os médicos e equipe médica, assim como as pessoas ligadas à OGN que lutou para que o aborto – totalmente legal - fosse realizado.
Para não me alongar muito, digo apenas que a Igreja é feita, dirigida e administrada por homens. Esses homens que se mantém “conservadores” (para usar um termo suave), mesmo em casos extremos como este, acham que o estupro de uma criança é muito menos grave que o aborto, ainda que uma menina de 9 anos pudesse ter o útero rompido, em função do seu corpinho de criança não suportar e uma gestação, especialmente de gêmeos.
Nada disso serviu para abrandar a fúria que culminou na excomunhão, aprovada, obviamente, pelo Vaticano.
De uma igreja assim eu não me importaria de ser excomungada, até porque acredito em Deus. A igreja católica, especialmente na era Bento XVI vem fazendo retrocessos. Felizmente existe uma ala progressista, que nos dá alguma esperança de que os católicos não se mudem todos para a igreja aberta na primeira esquina (algumas parecem farmácias), que está mais disposta a acolhê-los (claro que não será de graça).
Por que não se excomungou os que mataram na Inquisição, os que apoiaram, se calaram ou mesmo negam até hoje o genocídio cometido contra os judeus (e não só)? Por que não se excomunga os padres pedófilos? Por que um miserável desgraçado como esse padrasto merece o perdão e os outros são excomungados? Mas se o Vaticano disse que a máquina de lavar pode ter feito mais pela liberação da mulher do que a pílula ou o direito de trabalhar, o que se pode esperar?
Soube de católicos que se colocaram publicamente contra a decisão do bispo. Se disseram decepcionados.
Eu me espantei, mas não me decepcionei. A gente só se decepciona quando espera o que não pode ter.
Antes que alguém me escreva dizendo que sou uma assassina potencial por ser favorável ao aborto, gostaria de dizer que não sou e não acho que ninguém em sã consciência seja favorável ao aborto. No entanto prefiro não ser hipócrita e fingir que acredito que a ilegalidade impede o aborto no Brasil.
Todo mundo sabe que muitas e muitas mulheres abortam no Brasil, como sempre abortaram. A diferença é que as que podem pagar, vão à clínicas que só são clandestinas no nome. As que não podem morrem com infecções, se mutilam e sofrem as seqüelas físicas e psicológicas sozinhas.
Felizmente nunca me vi diante de uma gravidez indesejada. Também não acho que o aborto seja um método anticoncepcional. Penso apenas que vivemos em um país laico, sabemos que a ilegalidade não impede os abortos e já passou da hora de se discutir essa questão sem as baixarias que costumam rolar toda vez que se fala em legalização do aborto.
Legalizar com regras muito claras não significa obrigar uma mulher a fazer um aborto. Legalizar não significa aprovar, estimular ou promover o aborto. Trata-se apenas de não empurrar a sujeira para debaixo do tapete, só porque as grandes vítimas são as mulheres pobres.
Tomara que essa menina de Recife possa ser tratada psicologicamente, para que o estrago seja minimizado (eliminado a gente sabe que nunca será). E que Deus esteja com ela, mesmo que a Igreja a tenha abandonado.



Obs: Para ilustrar, posto aqui uma mensagem recebida por e-mail. Ocordel fala de tudo isso com mais poesia e humor.
A Excomunhão da Vítima
Miguezim de Princesa (**)

I
Peço à musa do improviso
Que me dê inspiração,
Ciência e sabedoria,
Inteligência e razão,
Peço que Deus que me proteja
Para falar de uma igreja
Que comete aberração.

II
Pelas fogueiras que arderam
No tempo da Inquisição,
Pelas mulheres queimadas
Sem apelo ou compaixão,
Pensava que o Vaticano
Tinha mudado de plano,
Abolido a excomunhão.

III
Mas o bispo Dom José,
Um homem conservador,
Tratou com impiedade
A vítima de um estuprador,
Massacrada e abusada,
Sofrida e violentada,
Sem futuro e sem amor.

IV
Depois que houve o estupro,
A menina engravidou.
Ela só tem nove anos,
A Justiça autorizou
Que a criança abortasse
Antes que a vida brotasse
Um fruto do desamor.

V
O aborto, já previsto
Na nossa legislação,
Teve o apoio declarado
Do ministro Temporão,
Que é médico bom e zeloso,
E mostrou ser corajoso
Ao enfrentar a questão.

VI
Além de excomungar
O ministro Temporão,
Dom José excomungou
Da menina, sem razão,
A mãe, a vó e a tia
E se brincar puniria
Até a quarta geração.

VII
É esquisito que a igreja,
Que tanto prega o perdão,
Resolva excomungar médicos
Que cumpriram sua missão
E num beco sem saída
Livraram uma pobre vida
Do fel da desilusão.

VIII
Mas o mundo está virado
E cheio de desatinos:
Missa virou presepada,
Tem dança até do pepino,
Padre que usa bermuda,
Deixando mulher buchuda
E bolindo com os meninos.

IX
Milhões morrendo de Aids:
É grande a devastação,
Mas a igreja acha bom
Furunfar sem proteção
E o padre prega na missa
Que camisinha na lingüiça
É uma coisa do Cão.

X
E esta quem me contou
Foi Lima do Camarão:
Dom José excomungou
A equipe de plantão,
A família da menina
E o ministro Temporão,
Mas para o estuprador,
Que por certo perdoou,
O arcebispo reservou
A vaga de sacristão.
(*) Poeta popular, Miguezim de Princesa, é paraibano radicado em Brasília.



P.S. Recebi alguns e-mails comentando o posto do Dia Internacional das Mulheres. A maioria concordando em maior ou menos grau com o que eu disse. Um deles, no entanto, dizia que fui muito radical e citou uma série de exemplos que, segundo ele, comprovavam o meu radicalismo.
Não vou explicar ou justificar o que escrevi, afinal, criei o meu blog para escrever o que eu quiser. Digo apenas que cada pessoa, baseada em uma série de fatores, chega à sua própria (e mutável) conclusão e emite uma opinião. Os outros podem concordar e/ou discordar.
O ideal é que as pessoas discutam, debatam, exponham seus pontos de vista, mudem ou não de opinião, enfim, exerçam o sacrossanto direito de pensar e expressar o seu pensamento.
Gratíssima pela compreensão galera.

9.3.09

Prière aux vivants pour leur pardonner d'être vivants



Je vous en supplie
faites quelque chose
apprenez un pas
une danse
quelque chose qui vous justifie
qui vous donne le droit
d'être habillés de votre peau de
votre poil
apprenez à marcher et à rire
parce que ce serait trop bête
à la fin
que tant soient morts
et que vous viviez sans rien faire de votre vie.

(Charlotte Delbo)

8.3.09

Mulheres, uni-vos!!



No Dia Internacional da Mulher, além dos “parabéns” de praxe, costuma-se presentear as mulheres com rosas. Virou uma espécie de dia da mulher, mulher e não da mulher cidadã, profissional, pessoa humana cujos direitos ainda são ignorados, subestimados ou violados.
Fico me perguntando por que as datas, ao longo do tempo, vão perdendo o seu sentido original, transformando-se apenas em mais uma data para se consumir.
Foi instituído, em 1975, o dia 8 de março como o dia internacional da mulher e a data não foi escolhida aleatoriamente. Neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve ocupando a fábrica, para reivindicar a redução do horário de trabalho (16 horas para 10 horas) e igualdade de condições com os trabalhadores do outro sexo (obviamente seus salários eram inferiores aos dos homens, como acontece até hoje, mesmo que ambos desempenhem a mesma função).
Unidas, elas decidiram por um protesto seguido de uma greve. O modo de dissuadí-las foi trancar as portas de emergência do galpão das máquinas e atear fogo. O saldo dessa tragédia foi a morte de mais de 100 mulheres por asfixia.
Receber rosas (flores e presentes em geral) é bom, mas no dia 8 de março acho que o melhor presente que um homem poderia oferecer à sua mulher é uma reflexão sobre o modo como a vê e a trata.
Não vou entrar na questão da data em termos mais abrangentes, da mulher cidadã e profissional. Muitas pessoas mais competentes já falaram sobre isso pela “blogosfera”. Permaneço no âmbito, digamos, mais doméstico.
Quantos homens se perguntam ou querem saber quem é a mulher que está ao seu lado? O que ela pensa, o que sente, o que sonha, o que revela, o que esconde e por quê?
Quantos refletem sobre esse ser estranho e complexo, que oscila como a lua, que sobe e desce mensalmente numa montanha russa hormonal e que tem outros atributos além de bunda e peitos?
Quantos já fizeram isso sinceramente algum dia? Quantos seriam capazes de um pequeno sacrifício pela sua companheira? Quantos sabem o que significa doação, entrega?
Particularmente sempre tive mais admiração pelas mulheres que pelos homens. Sexualmente as mulheres não me atraem (às vezes até penso que seria melhor, mas isso não se escolhe e nem se força), mas sob todos os outros pontos de vista, considero as mulheres mais interessantes.
Nunca tive uma relação competitiva com outras mulheres. Sempre vi minhas companheiras de gênero como aliadas e não inimigas. Não é que eu visse o homem como um inimigo, ao contrário, sempre o quis companheiro também, mas a minha referência de força, retidão, coragem e determinação foi feminina.
Evidentemente há mulheres que fogem à regra e dessas eu sempre mantive distância (às vezes elas surgem nas nossas vidas, contra a nossa vontade, como os monstros dos filmes de terror). Mas acho que na média, conheci (ou ouvi falar de) mais homens desprezíveis do que mulheres que merecessem esse adjetivo.
Às vezes acontece uma combinação perfeita: homem desprezível + mulher desprezível. E aí a gente reza para que sejam (in) felizes para sempre e, de preferência, bem longe dos nossos olhos. Semelhantes se merecem.
Outras poucas vezes deve haver também (infelizmente) a situação em que um espécime raro do sexo masculino, identificado como “homo confiável” (descendente “desviado geneticamente” do homo sapiens) surge na vida de uma mulher. Digo que deve haver, porque tudo nessa vida é possível e eu acredito em milagres.
Às vezes sinto uma enorme tristeza ao constatar a impossibilidade ou a raridade de uma harmoniosa profunda e verdadeira entre homens e mulheres.
Por que é tão difícil? Por que não é realizável uma relação de lealdade, respeito, sinceridade, entrega, compreensão e amor (AMOR assim com maiúsculas e verdade)entre homens e mulheres, quando se fala de sentimentos?
Hoje muitas mulheres receberam rosas, mas honestamente, sob certo aspecto, vejo isso mais como uma ofensa do que uma gentileza. Alguma coisa como aquela troca de espelhinhos com índios, sabe?
Não estou falando de vítimas e algozes, mas de um desencontro eterno que, ao fim e ao cabo, não beneficia ninguém.
E la nave va....

2.3.09

Parabéns Rio de Janeiro! Viva a cidade maravilhosa!!


Foto: Adventures Incorporated

Com 17 minutinhos de atraso, deixo aqui registrada a minha paixão pela linda aniversariante, com a qual me encantando todos os dias.
Quando estou longe, sinto uma falta enorme de passar pela praia de Botafogo e ver o Pão de Açucar, a Baia de Guanabara; da água de côco no mirante do Leblon, dos Dois Irmãos, do Jardim Botânico, de Copacabana vista do Forte ou do Leme ou de qualquer ponto, da variedade de tribos do Largo da Carioca, da Colombo na Ouvidor, do Aterro do Flamengo.
Nasci nessa cidade e mesmo achando esse negócio de patriotismo uma grande bobagem, levo o Rio comigo onde quer que eu vá e sei que, por mais que eu possa absorver (com alegria) elementos dos outros lugares em que vivi e ainda vou viver, serei sempre uma carioca.
Tenho uma pena enorme de tudo o que foi e é tirado do Rio, porque pelo menos daquilo que conheço, nunca vi uma cidade tão bonita, tão exuberante na sua natureza, na sua música, na sua capacidade de receber bem e assimilar todos os que chegam aqui.
Ok. Alguns sempre serão mais bem recebidos que outros, mas isso é do mundo, da vida, não é do Rio. O Rio atenua a dureza.
Sou feliz por ter tido o privilégio de nascer aqui, nesta São Sebastião do Rio de Janeiro.

1.3.09

Não é?


Errar é humano. Colocar a culpa nos outros também.

Goethe

"A verdade assemelha-se a Deus; não se revela imediamente, devendo ser adivinhada por suas manifestações."

Correspondência virtual

Tenho recebido alguns e-mails, através deste blog meio abandonado-experimental, e isto me deixa contente, na maioria das vezes.
Ainda não recebi nenhuma mensagem desagradável, mas sei que isso existe também (ou até mais) no mundo virtual, já que, com a falsa convicção de que jamais serão descobertos, alguns extravasam a sua infelicidade e mau humor desagradável.
Já ouvi casos horríveis, mas como meu bloguinho é mais um lugar onde faço apontamentos que servem basicamente a mim mesma, acho que estou fora da mira da turma do “espírito de porco.
Mas o que queria mesmo é agradecer às pessoas que escrevem e pedir desculpas por não responder com muita rapidez.
Acho que a idéia de tirar os comentários e deixar só o e-mail foi boa, pois assim a troca, em geral, torna-se mais efetiva.
Já pensei até em não deixar o blog aberto, usando-o apenas como um diário pessoal eletrônico. Mas como comecei a receber e-mails -alguns bem legais ;)-, resolvi deixá-lo assim, pelo menos enquanto for bom.
Então, caros correspondentes, saibam que as respostas virão em algum momento, a menos que seja um espírito de porco muito chato. Nesse caso, desculpem-me mas “tô fora”, deleto.
A quem me perguntou se ando desconstruindo para reconstruir, respondo que a gente – ou eu, pelo menos - faz isso, de certa forma, a vida inteira.