26.4.09

Recordar é viver

Impressiona-me sempre como certas coisas são, ao mesmo tempo, tão óbvias e tão difíceis de se perceber (ou de se ter essa consciência). Outras vezes, quando leio ou ouço alguma coisa desse gênero, vejo que não sou a única a pensar daquele modo e passo a considerar os meus pensamentos como possibilidades em vez de utopias.
Nos últimos dias além de comer muito camarão e algumas lagostas, cheguei à conclusão de que o próximo objetivo de vida é mesmo aquietar a mente.
Claro que até chegar a esse estágio, terei que ter muita disciplina, perseverança e concentração, ou seja, tudo (ou quase) que não tenho em grandes estoques.

Uma mudança no meu sonho recorrente aconteceu: em vez de querer dizer, eu tinha algo a perguntar. Há anos e anos esse sonho se repete e a vontade era sempre de contar. Dessa vez, o sonho foi lindo como sempre, mas eu tinha curiosidade em saber. Não sei o que isso significa, mas deve significar alguma coisa. O que sei é que se eu pudesse programar meus sonhos, teria variações deste todos os dias, porque me sinto bem e calma ao acordar.

Revi uma querida amiga que conservo desde os 12 anos. Não nos víamos desde 2006. Ela teve um problema no coração, fez uma cirurgia, mas agora está tudo bem. Mostrei-lhe algumas coisas que guardei da nossa adolescência: cadernos com mensagens (aquele clássico de fim de ano), fotos e alguns objetos que nem me lembrava mais. Passamos muito tempo a recordar desta e daquela amiga, daquele menino que era lindo, da professora amiga do Milton Nascimento que nos apresentou a ele num show. Eu lembrava de coisas que ela não lembrava e vice-versa.
Ela sempre foi muito calma e calada. Eu tive uma fase enfant terrible na qual poucos colegas eram bem vindos. Foi uma fase de muita agressividade e vontade de romper com a ordem.
Ela lembrou-se que um dia eu disse: “se alguém fizer alguma coisa com você, me diga e eu quebro a cara dessa pessoa”. Comecei cedo a julgar-me uma super-heroína, que podia salvar os bons e lutar contra os maus. Depois veio a fase mais pé no chão e com ela a minha frase lapidar: “ a realidade é iconoclasta”.
Lembro-me bem desse dia. Estava lendo e deparei-me com a palavra iconoclastia. Fui ao dicionário ler a definição. Nessa época eu gostava de um menino chamado Max (eu e 90% das meninas da escola) e, por conseqüência, o achava lindo, inteligente, maravilhoso, praticamente um ídolo e, como tal, sem defeitos. Rolava um tal caderno de perguntas, que a gente passava entre os amigos, para saber o que eles pensavam sobre certos temas, o que (e de quem) gostavam (às vezes isso era só um meio de saber a respeito de alguém especificamente....adolescência tem dessas coisas, não é?) o que queriam.
Dei o meu caderno para ele e, quando li as respostas, descobri que ele era chato e bobinho. Aí, lembrei-me da palavra iconoclastia e pensei: por mais que eu queira vê-lo como príncipe, ele é um sapo, ou seja, a realidade é iconoclasta. Pronto. A partir daí essa frase acompanhou-me e virou uma espécie de referência, pois meus amigos a citavam, quando se referiam a mim.
Rimos muito dessas lembranças e, embora nossas vidas tenham tomado rumos muito diferentes, dos nossos temperamentos serem praticamente opostos e da vida nos manter quase sempre à distância, temos aqueles momentos em comum que servem para manter um delicado elo, que nos ligará para sempre.
No mais, meu caros, nenhum acontecimento passível de comentários aqui.

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