1.5.09

Pequenos gestos de amor


Numa associação de idéias muito particular, partindo do 1º de maio, lembrei-me do meu primeiro amor (ou o que eu pensava que fosse o amor, mas que era a primeira paixão).
Foi aquele começo bem romântico, de troca de olhares, de passar várias vezes e a cada uma delas olhar com um sorriso. Enfim, essas coisas que a maioria das pessoas já viveu.
Um dia ele me pediu uma carona de guarda-chuva. Estava chovendo. Eu tinha guarda-chuva e ele não. Aí ele, muito timidamente, me perguntou se podia pegar uma carona.
Respondi que sim e fomos, aproveitando a chance que o pequeno guarda-chuva nos dava de estar assim próximos. Ele, com a desculpa de segurar o guarda-chuva, segurou a minha mão. Senti fagulhas de ambos os lados.
Depois disso não me lembro bem, mas algum tempo depois ele deve ter me pedido o telefone, para passearmos (ele não era do Rio) e um belo dia ligou.
Convidou-me para sair, mas já não me lembro onde fomos e nem sei se foi aí que o namoro começou.
O fato é que - ainda no processo de sair da adolescência - me apaixonei pela primeira vez. Claro que antes já havia sentido várias paixõezinhas na escola, mas tudo platônico e, para ser sincera, sem grandes importâncias.
Começamos a namorar e eu não pensava em mais nada, não sentia fome, nem sono, nada.
Dormia pensando nele e acordava do mesmo jeito. Sei que com ele também era a mesma coisa, pois nessa idade nem os homens fingem bem e ele estava apaixonado como eu
Muitos meses depois brigamos, aliás, eu briguei. Fiquei ofendidíssima com uma proposta indecente que ele me fez. Nossos hormônios estavam a mil por hora e, claro, a gente sentia um tesão enorme, mas eu não queria transar ainda, ou melhor, até queria, mas sabia que tinha que me sentir segura, fazer isso por mim e não para ceder a vontade dele.
Ele sugeriu que aquele era o momento, com muito jeitinho, de forma tão indireta que custei a entender, mas, quando entendi, fiquei ofendidíssima (pelo menos essa foi a minha reação). Eu já havia dito que, quando me sentisse pronta, seria a primeria a tomar a iniciativa. Achei que ele estava me pressionando e reagi radicalmente.
Durante dias ou semanas (não me lembro)ele passava por mim e eu nem olhava (a gente se via diariamente).
Nos primeiros dias eu não queria mesmo olhar, estava com raiva e achava que não falaria com ele nunca mais.
Depois a raiva começou a passar e já sentia vontade de falar, de olhar...mas não olhava. Acho que gostava muito de ser dura naquela época. Já havia entendido que ele não queria forçar a barra e nem me manipular, apenas sentia tesão, queria transar e me disse isso.
Não sei quantos dias (ou semanas?) depois ele me ligou, dizendo que não aguentava mais aquela distância, que me amava muito e que gostaria de conversar, para entender as minhas razões e explicar as dele.
Claro que o meu coração disparou, porque eu também já não sentia raiva e queria muito estar com ele, beijá-lo, ouví-lo.
Marcamos um encontro, mas eu não tinha intenção de amolecer. Só que ele foi muito sensível e me fez uma linda surpresa. Foi esse gesto simples, pequenininho e tão lindo que me fez abrir um sorriso enorme, abraçá-lo, beijá-lo (aqueles beijos de adolescente, sabem?) e sentir uma felicidade imensa.
A surpresa consistia em usar um sapato de bico fino. Explico: ele sempre usou sapatos que eu não gostava. Várias vezes comentei que ele ficaria melhor com outro tipo de sapatos mais elegantes, mas ele resistia, dizia que gostava mais daqueles que usava.
Um dia vimos um sapato que eu achei lindo. Disse a ele que queria que tivesse um assim. Ele desconversou, mas eu sabia que aquela seria uma batalha longa (realmente os sapatos que ele usava eram feios demais e sapato de homem tem que ser bom e bonito). Conclusão: no dia do encontro, ele apareceu com aqueles sapatos que gostei.
Foi a primeira coisa que vi, quando o encontrei. Aquilo quebrou todas as minhas reservas. Corri para o abraço e vivemos felizes para quase sempre até nos separarmos muitos anos depois, quando eu já não sentia aquela grande paixão.
Não foi apenas o prazer de ver a minha vontade realizada (confesso que, naquela época principalmente, era importante me sentir "vencedora"...coisas da insegurança e da imaturidade), mas principalmente, porque ele disse, sem a necessidade das palavras e de um modo muito delicado, que me amava, que estava aberto às mudanças, que faria "sacrifícios", que queria me ver feliz, alegre e, naquele dia, conseguiu.

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